Bologna é uma das cidades mais importantes da Itália, tanto
do porto de vista cultural como do econômico. É a capital da Região
Emilia-Romagna e conta hoje com cerca de 300.00 habitantes em sua área urbana. A
sua origem remonta à época dos etruscos (século IV AC), denominada Felsina, tendo
sido uma das mais importantes cidades da Pianura Padana.
Após a ocupação da cidade pelos Celtas, ela passou a se
chamar Bononia, termo que vem da palavra celta bona que significa “lugar fortificado”. Com a chegada dos romanos
em 189 a.C a cidade se transformou e se expandiu. Mas foi na Idade Média que
teve a sua máxima glória e se tornou um dos centros europeus mais populosos e
culturalmente ativos. Neste período foi criada a Universidade.
A cidade de Bologna é hoje conhecida também por alguns termos
que são originários da antiga Universidade: “la
Rossa” (a vermelha), “la Grassa”
( a gorda) e “la Dotta” (a culta).
“la Rossa” pelo reflexo que a cor dos tijolos de
suas construções imprime à cidade e pela sua conotação política,
particularmente nos anos 60 e 70, em função das manifestações estudantis.
“la Grassa” porque ama a boa cozinha, pela sua
tradição gastronômica já famosa na Idade Média e enriquecida nos períodos subseqüentes
graças à forte influencia dos
universitários.
“la Dotta” porque abriga a Universidade mais
antiga do mundo ocidental.
Segundo um comitê de historiadores, criado e dirigido pelo
famoso poeta Giosuè Carducci, a Universidade nasceu em 1088, época em que os
mestres de Gramática, Retórica e Lógica começaram a se interessar pelo Direito.
Os primeiros estudiosos foram os juristas Pepone e Irnerio, conhecido como “lucerna iuris”, que se dedicou ao estudo de textos de Direito Romano
Justiniano e criou a Escola de Jurisprudência.
A Universidade de Bologna nasce então, como uma organização
livre e laica criada diretamente pelos estudantes. Estes escolhiam e pagavam diretamente os
docentes, no início, através de uma oferta denominada “collectio”. O pagamento
ocorria desta forma porque sendo a Cultura um dom de Deus, ela não poderia ser vendida,
ou seja, os docentes não poderiam receber um pagamento efetivo para transmitir
a Cultura aos alunos e sim uma doação. Posteriormente este pagamento passou a
ser feito através das instituições públicas. Inicialmente as aulas eram
ministradas na própria residência dos professores. Os estudantes se agruparam
em associações chamadas “universitas”
(de onde se origina o termo Universidade) onde existiam subdivisões que
abrigavam os alunos de mesma origem chamadas de “nationes”, divididas em intramontanas (dos italianos) e
ultramontanas (dos estrangeiros). Estas duas divisões, por sua vez, se dividiam em corporações ou “nationes” com base na sua origem: dos Franceses, dos Espanhóis,
dos Catalães, dos Toscanos, dos Lombardos, dos Romanos, etc. Já no século XII
existiam 17 subnações intramontanas e 14 ultramontanas.
Na seqüência do tempo, a Universidade agrupou o Direito
Romano ao Direito Canônico, e posteriormente, quando foram introduzidas outras
disciplinas científicas e artísticas, as denominações mais utilizadas foram as
da Universidade dos Juristas e Universidade dos Artistas. A Universidade de
Bologna foi a primeira da Europa e se pode dizer que dela, assim como
posteriormente da de Paris, derivaram todas as outras universidades européias,
organizadas no mesmo conceito de ensino livre. A cidade de Bologna deve à ela a
sua fama e o seu desenvolvimento.
Como testemunha da forma de criação da Universidade, no
palácio do “Archiginnasio”, a sede
histórica da Universidade construído no século XVI na Piazza Galvani, vizinha à
Piazza Maggiore, abriga um complexo heráldico de quase 600 bandeiras estudantis
e inscrições de homenagem aos professores. Está ativo ainda hoje também o “Collegio di Spagna”, fundado em 1364 pelo cardeal Egidio Albornoz para abrigar
os estudantes espanhóis, certamente o mais famoso entre os numerosos colégios
fundados entre os séculos XIII e XVII.
Estudaram na Universidade alguns dos mais famosos nomes da
literatura italiana: Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Guido Guinizelli,
Cino da Pistoia, Cecco d´Ascoli, Re Enzo, Salimbene da Parma, Coluccio
Salutati, San Carlo Borromeo, Torquato Tasso, Laura Bassi, Carlo Goldoni,
Giosuè Carducci, Umberto Eco. Frequentaram também a Universidade Pico della Mirandola
e Leon Battista Alberti, Niccolò
Copernico lá estudou Direito Pontifício.
Nos anos subseqüentes estudaram lá também muitos estrangeiros
ilustres entre os quais Thomas Becket, Paracelso, Erasmo de Roterdã, o Papa
Nicolau V, Raimundo de Penaforte, Albrecht Durer e tantos outros.
O curso de Medicina merece uma menção especial: ele foi incluído
no curso de Artes, através de uma Bula papal, em 1219. Ainda hoje, no brasão da
Universidade figuram no canto superior direito a imagem de São Cosme e São
Damião, patronos dos médicos e dos farmacêuticos e protetores da Escola de
Medicina. Estes santos eram dois irmãos cristãos da Síria e se atribui à eles o
milagre do transplante de membros e muitos outros. Morreram martirizados a
mando de Diocleciano.
É interessante saber que na época eram três os ensinamentos
da Medicina: a prática, a teoria e a astrologia, ou seja, o estudo da
influencia dos astros sobre a saúde. Graças à este ultimo ensinamento se
iniciaram os primeiros impulsos para os estudos astronômicos cujo estudante
mais famoso foi Copérnico que iniciando o curso como estudante de Direito e de
Medicina em seguida, lançou as bases da astronomia moderna.
Com o passar dos anos é dada grande importância à cirurgia
considerada inicialmente como matéria alternativa. A cirurgia se difunde nas
aulas de Ugo Borgognoni e, em particular, nas de seu filho, o frade dominicano
Teodorico de Lucca (1205-1298), cuja tumba se encontra na igreja de São
Domingos. Teodorico difundiu o uso da “spongia
somnifera”, um anestésico para aliviar a dor da operação e modificou o
tratamento dos ferimentos. Foi neste período que os mestres de Medicina
assumiram o título de Doutores e mais tarde de professores. Ao cirurgião
Guglielmo da Saliceto (1210-1277) se deve o mérito de haver publicado um texto
sobre a pratica cirúrgica.
Começaram em seguida a
pratica das dissecações anatômicas, primeiro em animais e depois em corpos
humanos, práticas estas já esquecidas desde o período romano. O ensino da
anatomia inicialmente acontecia nas casas dos docentes e apenas em 1637 vem a
ser construído um verdadeiro Teatro Anatômico, dentro do prédio do “Archiginnasio”. Os cadáveres não eram
mais de bologneses mas sim de
prostitutas ou de pessoas condenadas à morte ou de pessoas sem família e,
algumas vezes, lançavam mão de cadáveres roubados nos cemitérios. Como
testemunhas destas autópsias existem pinturas desta época nas quais os mestres aparecem sentados em uma poltrona tendo
em mãos o livro de anatomia e em frente uma mesa com um cadáver deitado e um
cirurgião, ou um barbeiro, com a faca em mãos seccionando o corpo.
Mondino de Liuzzi (1270-1325), discípulo de Taddeo Alderotti
e leitor da Medicina Pratica introduz o ensino regular da Anatomia como
fundamento indispensável do “curriculum
studii” para os médicos e em 1316 escreve “Anothomia” o primeiro e mais famoso texto de anatomia em todas as
Universidades até o século XVI. O seu trabalho contribui muito para incrementar
a fama da Escola de Medicina e Anatomia da Universidade de Bologna.
No século XVIII, com a Revolução Industrial, a Universidade
promove o desenvolvimento científico e tecnológico. Neste período retorna aos
estudos Luigi Galvani que, com
Alessandro Volta, Benjamin Franklin e Henry Cavendish, foram os
fundadores da Eletrotécnica moderna.
O período que se segue ao nascimento do Estado Unitário
Italiano, é para a Universidade de Bologna, uma época de grande impulso onde se
destacam as figuras de Giovanni Capellini, Giosuè Carducci, Giovanni Pascoli,
Augusto Righi e outros.
Em 1888 se celebrou o oitavo centenário da criação da
Universidade, evento grandioso que reuniu em Bologna representantes de todas as
universidades do mundo para homenagear a Mãe
das Universidades. A cerimônia se transformou numa festa internacional de
estudos uma vez que as universidades reconhecem em Bologna as suas raízes, os
seus elementos de continuidade e os ideais comuns de progresso.
A Universidade manteve esta posição centralizadora na cena da
cultura mundial até o período entre as duas grandes guerras, quando outras
realidades começam a dominar o campo das pesquisas e da formação. Ela é chamada
a se relacionar com as instituições dos países mais avançados empreendendo um
percurso de atualização e crescimento. Entre os desafios coletados a
Universidade se empenhou no confronto com a nova dimensão européia que
conduziria às inovações do sistema
universitário.
Em 2017 a Universidade hospedava 79.138 estudantes e se
encontrava articulada segundo uma estrutura “multicampus”
com sedes em Bologna, Cesena, Forli, Ravenna e Rimini além da sede de
Buenos Aires na Argentina. Fazem parte da sua “Alma Mater” também algumas escolas superiores, institutos e
colégios entre os quais o Colégio Superior, estruturas para pesquisa e uma rede
de serviços bibliotecários, de museus e lingüísticos.
Por Annalisa Fazzioli Tavares
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